vermelhos #2

2020



Vermelhos #2 é uma instalação que reposiciona peças de cerâmica realizadas em 2016 durante residência nos ateliês de cerâmica das Oficinas do Convento, localizada em Portugal na pequena cidade de Montemor-o-Novo. Em Vermelhos, versão 2020, acrescem-se às peças de cerâmica, peças-estruturas de metal. E as cerâmicas são reposicionadas no espaço em relação a estas.

As estruturas de metal, ao invés de suportarem as peças como bases de obras de arte, as deixam cair, e convivem com estas como ruína no mesmo espaço expositivo.

Vermelhos #2 remete à ruina das relações coloniais, e se refere à uma prática colonial em específico já constante em Vermelhos.

No Brasil a expressão “nas coxas” se refere a algo “mal-feito”, feito com descaso, sem cuidado e zelo. Esta expressão deriva de uma imagem muito familiar a brasileiros em geral mas polêmica entre historiadores, de que à época colonial as telhas das casas eram moldadas nas coxas, nas pernas de negros escravizados.


O desdobramento de pesquisas decoloniais em andamento já em minha trajetória como artista à época, sugeriu o processo realizado então: fazer moldes de telhas nas coxas de portugueses e estrangeiros europeus.

Vermelhos também expõe a questão de definição racial, questão determinante e imensamente complexa no Brasil de hoje e de sempre.

Além dos moldes-moles, pedi  aos modelos portugueses que antes realizassem a mistura de argilas nas 4 cores que conhecemos como cores de raças distintas, e que se referem imediatamente aos tons de pele destas, no Brasil, vermelho (indígena), branco (ocidental/europeu), negro (africano) e amarelo (oriental), e tentassem a partir delas representar seu próprio tom de pele.

As peças de um barro colhido e trabalhado por mim como argila, ofertado, e tornadas coloridas pelos participantes, após cozidas, como muitas das terras expostas à alta temperatura, se tingiram de vermelho. E daí o nome da peça. Colocadas em determinada situações específicas, as cores das terras, assim como as cores das peles, se transformam. A direção sugerida por estes barros trabalhados, foi o retorno ao ancestral : o Vermelho dos nossos povos originários.






© 2019 Paula Scamparini