vermelhos

projeto realizado em Oficinas do Convento . Montemor-o-novo, Portugal
exposição na galeria BLAU Projects . São Paulo, Brasil

A instalação Vermelhos mostra algumas das peças realizadas durante projeto Vermelhos em Montemor-o-novo, Portugal. Convidou-se a comunidade local e colaborar como modelos para a moldagem de peças em cerâmica, em ação que remetesse à feitura colonial de telhas moldadas em coxas de escravos, prática realizada em Portugal e no Brasil, segundo alguns pesquisadores, ou ao menos segundo a crença popular. A partir de argilas confeccionadas para a ocasião, com barros da região, nas cores preta, branca, vermelha e amarela, foi solicitado aos colaboradores que realizassem a mistura das argilas, procurando assemelhar a cor final à cor da própria pele. Num processo de 3 dias de encontros, pernas de portuguesas e portugueses, e de estrangeiras(os) foram moldadas. Após secagem, queimadas as telhas-coxa, o conjunto antes colorido se aproxima majoritariamente da cor de pele endereçada aos indígenas nas Américas: o vermelho. Na galeria a montagem se deu a partir do espaço endereçado em coletiva. As peças são conjunto e solos, simultaneamente. Este projeto está em andamento, e pretende ser desdobrado adiante, em feitura de muitas, muitas coxas-telhas.
curadoria
natália quinderé

fotografias
Letícia Ranzani




























vistas da exposição na Galeria Blau Projects . São Paulo


colaboradores
coxas
Ana Pinto Basto
Gabriella
Gilkka Gy Delle
Katarina Hudacinová
Lamine Carvalho
Mariana Stoffel
Mãe
Nélia Martins
Paulo Morais
Robert Szabò

agradecimentos
Mafalda Sofia Rosário; Sergio Carronha; Tomas Roubal; Ana João Almeida; João Henrique; Tiago Fróis; Virgínia Fróis; Joaquim Pimentão; João Sofio; Rui Cacilhas; Pedro Grenha.

agradecimento especial
Oficinas do Convento


vermelhos #2

Zonamaco Cidade do Mexico, 2020



Vermelhos #2 é uma instalação que reposiciona peças de cerâmica realizadas em 2016 durante residência nos ateliês de cerâmica das Oficinas do Convento, localizada em Portugal na pequena cidade de Montemor-o-Novo. Em Vermelhos, versão 2020, acrescem-se às peças de cerâmica, peças-estruturas de metal. E as cerâmicas são reposicionadas no espaço em relação a estas.

As estruturas de metal, ao invés de suportarem as peças como bases de obras de arte, as deixam cair, e convivem com estas como ruína no mesmo espaço expositivo.

Vermelhos #2 remete à ruina das relações coloniais, e se refere à uma prática colonial em específico já constante em Vermelhos.

No Brasil a expressão “nas coxas” se refere a algo “mal-feito”, feito com descaso, sem cuidado e zelo. Esta expressão deriva de uma imagem muito familiar a brasileiros em geral mas polêmica entre historiadores, de que à época colonial as telhas das casas eram moldadas nas coxas, nas pernas de negros escravizados.


O desdobramento de pesquisas decoloniais em andamento já em minha trajetória como artista à época, sugeriu o processo realizado então: fazer moldes de telhas nas coxas de portugueses e estrangeiros europeus.

Vermelhos também expõe a questão de definição racial, questão determinante e imensamente complexa no Brasil de hoje e de sempre.

Além dos moldes-moles, pedi  aos modelos portugueses que antes realizassem a mistura de argilas nas 4 cores que conhecemos como cores de raças distintas, e que se referem imediatamente aos tons de pele destas, no Brasil, vermelho (indígena), branco (ocidental/europeu), negro (africano) e amarelo (oriental), e tentassem a partir delas representar seu próprio tom de pele.

As peças de um barro colhido e trabalhado por mim como argila, ofertado, e tornadas coloridas pelos participantes, após cozidas, como muitas das terras expostas à alta temperatura, se tingiram de vermelho. E daí o nome da peça. Colocadas em determinada situações específicas, as cores das terras, assim como as cores das peles, se transformam. A direção sugerida por estes barros trabalhados, foi o retorno ao ancestral : o Vermelho dos nossos povos originários.





© 2019 Paula Scamparini