in the south, turtles do not age

instalação MAG3 Projekteraum . Vienna, Austria
with artist Sabine Groschup
commissioned by TONSPUR Kunstverein Wien; Museum Quartier Vienna Q21; MAG3.
http://www.cupix.at/mag3scamparini/mag01.html























vista da instalação


IN THE SOUTH TURTLES DO NOT AGE

BERTHOLD ECKER, CURADOR DE ARTE CONTEMPORÂNEA NO WIEN MUSEUM.
[TEXTO CURATORIAL (PARCIAL) PARA A EXPOSIÇÃO IN THE SOUTH TURTHES DO NOT AGE.] 2018

(...) 1,5 toneladas de areia, de Copa Kagrana [praia situada em Viena], fazem referência à praia de Copacabana no Rio de Janeiro, cidade na qual Scamparini vive. A menção, entretanto, é ao lugar e não à topografia, em seu sentido mais estrito. A história aqui con- tada expõe a brutal exploração e abuso a que a natureza é submetida. As consequências são alarmantes e continuarão a ser sentidas nas próximas décadas. O Brasil, com seus vas- tos recursos físicos e naturais, que até então mantêm certa funcionalidade, continua a ser uma reserva vital do ecossistema e econo- mia mundiais. Por infortúnio, esses dois siste- mas ainda estão em conflito, e sua harmonia parece ter sido perdida há muito tempo. É nesse conflito que reside a essência da afir- mação, bem como o porquê de as tartarugas não envelhecerem no Sul que Paula retrata.

O caso está relacionado com uma enorme catástrofe ambiental na qual uma barragem com rejeitos de alta toxicidade em Bento Rodrigues [Minas Gerais] se rompeu e milhões de metros cúbicos de lama tóxica alcançaram o Rio Doce, um dos principais rios do país. Caudalosas ondas de resíduos venenosos carregaram consigo vilas inteiras e todo este gigante celerado derramou-se, formando um cone aluvial no Oceano Atlân- tico. Conforme a lama secava, as carcaças dos animais vinham à tona (...) A instalação destaca este momento. Por sua aparência externa e materialidade, ela se aproxima das instalações performativas em ambientes natu- rais criadas pela artista cubana Ana Mendieta, que nos deixou precocemente. A natureza combativa de sua obra é de grandeza com- parável à de Scamparini.

O que aconteceu depois do desastre? A empresa responsável, Samarco Mineração [um empreendimento conjunto entre empre- sas inglesas, australianas e brasileiras] foi condenada a pagar vultosas indenizações (...)

Scamparini questiona a relação entre a natureza e a cultura. Como um ambiente afeta as origens e comportamentos das pes- soas? Que consequências um crime desse porte traria para os responsáveis? Há uma tendência a eximir o Norte dessas questões, mas a globalização torna mais integrada a perspectiva do ecossistema. Tendo em vista um incidente semelhante na porção ocidental da Hungria em 2010, durante o rompimento de uma barragem colonial, podemos observar que os dois casos são bastante semelhan- tes e apenas seus alcances são diferentes. Na ocasião, também houve o rompimento de uma barragem, com rejeitos tóxicos chegando a invadir extensas áreas e as tor- nando inóspitas. À época, a solução do caso foi assumida pelas autoridades húngaras, o que assinala a sua gravidade. A diferença sig- nificativa reside não só no tamanho do país como também no sofrimento da população indígena. Esta mais uma vez se viu alijada de sua fonte de sustento, além da base de toda a sua cultura. Onde está a resistência, como ela pode operar, e como efetivamente funciona no atual estado de nossas democracias?

As tartarugas de Scamparini não enve- lhecem porque são mortas muito antes. Em diferentes culturas, a grande tartaruga é uma espécie de fundamento do mundo. Dizem que o mundo é carregado por um elefante em pé sobre uma tartaruga, mas o que ninguém sabe é quem a sustenta. Até mesmo Vishnu, em uma de suas encarnações, toma a forma de uma tartaruga, que protege o mundo da iminente ruína. Assim, quem quer que mate a tartaruga, o afoga, pois terá removido a sua base de sustentação. No entanto, dos clamo- res em defesa da ecologia e sustentabilidade, continuarão a fazer pouco caso (...)


IN THE SOUTH TURTLES DO NOT AGE

BERTHOLD ECKER, CURATOR OF CONTEMPORARY ART IN THE WIEN MUSEUM.
[CURATORIAL TEXT (PARTIAL) FOR THE EXHIBITION IN THE SOUTH TURTHES DO NOT AGE] 2018

(...) 1.5 tons of sand, borrowed from the Copa Kagrana [beach in Vienna], form a reference to the beach of Rio de Janeiro, where Scamparini lives. However, it’s not about topography in the narrower sense, it’s about a specific place. The story told here is about brutal exploitation of nature and its blatant abuse with consequences that will be painfully felt for many decades to come. Brazil, with its vast resources of raw mate- rials as well as still functioning nature, contin- ues to be a vital reservoir for the world’s bio and economic system. Unfortunately, these two systems are still in conflict and balanced harmonization seems a long way off. In this conflict lies the essence of the statement and also the reason why the turtles do not grow old in Paula’s South.

The case relates to a huge environmen- tal catastrophe when a dam for a very toxic reservoir at Bento Rodrigues [Minas Gerais, Brazil] broke, and millions of cubic meters of toxic sludge reached the Rio Doce, one of the country’s main rivers. Poisoned mud masses tore entire villages with them and all the madness finally poured out forming a huge alluvial cone, into the Atlantic Ocean. As the mud dried, the carcasses of the animals became visible (...) The installation plays on this moment. Her outward appearance and materiality bring her close to performative installations in the landscape by the Cuban artist Ana Mendieta, who died very early and took on a similarly combative attitude in her feminist orientation as Scamparini does.

What happened after the disaster? The responsible company Samarco Mineração [a joint venture between English, Australian and Brazilian companies] was sentenced to high claims payments (...)

Scamparini questions the relationship between landscape and culture. How does an environment affect people’s origins and behaviors? What consequences would such a crime have for those responsible? One would be inclined to exclude such things for the North, but the world has become small, the 
same ecossystem covers the entire planet. In view of a similar incident in West Hungary in 2010 during the colonial dam break, we can only see gradual differences. Even then, a dam had broken toxic sewage sludge spilled over large areas and made permanently unin- habitable, even the local responsible tried to talk out. The significant difference lies in the size of the country and in the suffering of the indigenous population, which has lost once again its livelihood and the basis of its entire culture. Where is the resistance, how can it work and does it function in the current state of our democracies?

Scamparini's turtles do not grow old because they are killed before. In different cultures, the great turtle is something like the foundation of the world. It is said that the world is carried by an elephant that stands on a turtle, but whoever wears the turtle is not known. And even Vishnu in one of his incar- nations is a turtle, as he supports the world as it threatens to overthrow. Consequently, whoever kills the turtle, plunges the world by undermining its foundation. The question of ecology and sustainability, however, goes unheard (...)



IN THE SOUTH TURTLES DO NOT AGE

realização · organization: MAG3 Projectraum Vienna . projeto comissionado por · project commissioned by: TONSPUR Kunstverein Wien; Museum Quartier Vienna Q21; MAG3.

agradecimentos especiais · special thanks Sabine Groschup.

agradecimentos · acknowledgments
Georg Weckwerth; Gue Schimidt; Berthold Ecker; Roberto Muffoletto; Ursula Probst; Osmar Rocha Barbosa; Fernando de Souza; Clarissa Canedo; Aguinaldo Nepomuceno; Fabiana Kohlrausch; Gabriel Barros.

agradecimentos institucionais .institutional acknowledgments
Departamento de Zoologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.



© 2019 Paula Scamparini